A Rubem Braga
Prefiro ficar aqui, nesta praia. Onde os meninos continuam a jogar bola e a construir seus castelos.
Gosto mesmo é de fixar os olhos no horizonte, esperando surgirem, de repente, imensas caravelas, trazendo consigo o sol e rumores de terras distantes.
Como os ciganos ao povo de Macondo, os marujos nos fariam grandes revelações; que em algum lugar faz frio e que há poucos casacos para todos, mas a proximidade da gente impede que haja mortes, e que havendo, faz-se silêncio; que os homens continuam a criar “ismos”, mas falta muito peito, inclusive respeito, exceto, é claro, em Ipanema, onde o primeiro abunda; que há canto na África em meio aos tambores da guerra, assim como na favela. Eles trariam objetos também; espelhos, máquinas de calcular, fotografias... e nós retribuiríamos com aquela velha e boa cachaça de Minas .
Conversaríamos, beberíamos e comeríamos durante todo o dia, e à noite faríamos uma grande fogueira, através da qual as histórias ganhariam um ar sinistro e tenso, como nossos rostos e olhos refletindo as chamas.
Por fim, guiados pelo farol sobre as areias, eles partiriam, em busca de outras crianças a construir castelos, como os meus...
Alberto de Lima, Rio, 13/01/2008.