domingo, 13 de janeiro de 2008

Visitantes

A Rubem Braga

Prefiro ficar aqui, nesta praia. Onde os meninos continuam a jogar bola e a construir seus castelos.

Gosto mesmo é de fixar os olhos no horizonte, esperando surgirem, de repente, imensas caravelas, trazendo consigo o sol e rumores de terras distantes.

Como os ciganos ao povo de Macondo, os marujos nos fariam grandes revelações; que em algum lugar faz frio e que há poucos casacos para todos, mas a proximidade da gente impede que haja mortes, e que havendo, faz-se silêncio; que os homens continuam a criar “ismos”, mas falta muito peito, inclusive respeito, exceto, é claro, em Ipanema, onde o primeiro abunda; que há canto na África em meio aos tambores da guerra, assim como na favela. Eles trariam objetos também; espelhos, máquinas de calcular, fotografias... e nós retribuiríamos com aquela velha e boa cachaça de Minas .

Conversaríamos, beberíamos e comeríamos durante todo o dia, e à noite faríamos uma grande fogueira, através da qual as histórias ganhariam um ar sinistro e tenso, como nossos rostos e olhos refletindo as chamas.


Por fim, guiados pelo farol sobre as areias, eles partiriam, em busca de outras crianças a construir castelos, como os meus...

Alberto de Lima, Rio, 13/01/2008.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Muros

Moro Lá no Alto, pertinho do sol
As crianças correndo pelos becos me enchem de esperança
Seus papagaios são um prenúncio de carnaval
Confetes na tristeza do dia

Lá embaixo há correria
Cada teco um sinal de hipocrisia

"A concordância é geral"
"Somos o povo da alegria"
"O povo cordial"

Mas a cidade está partida
E sangra por todos os lados
E o povo de baixo só olha pra cima
Quando a blindagem é ferida

Moro lá no alto

"Seria belo o pôr deste sol, não fossem os muros do nosso tempo...."


Rio, 01/01/2008