domingo, 17 de agosto de 2008

Riqueza

Chorei tanto
Tão estranho sentir
Que um cego cantor de blues teve pena de mim

E fez seu sax dizer, assim, coisas tão belas

Choraram de New Orleans à azul Portela...

Então chegou o samba
No baticum da batucada
Que ecoa triste na madrugada

E renova na cidade a esperança

É como um choro de criança, que passa...

Ah, safado choro
Nas ladeiras do morro, de um barraco torto,
Estranho palacete em que te espero,

Rolam as notas de um sonho eterno...

Ah, esse canto a zombar da tristeza!
É tudo o que nos resta.
É nossa maior riqueza...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Cisma Sussurrante...


Cidade enovoada
Um sussurro de alerta
Na rua

Sombras se movem
Serpeiteiam pela nua
Lua

Me dizes: sou sua, sou sua...

E me despeço numa curva escura...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Sobre mangangás e borboletas azuis

Cheguei uns 20 minutos antes. A sala não devia ter muitas pessoas; umas 20 talvez. Mas até a hora do evento ficou impossível encontrar um lugar vago.

De repente, ela entrou, usando um echarpe sobre o pescoço, com sua silhueta frágil, mas instigante.

Todos aplaudimos, ansiosos. Ela sorriu.

Logo, começou a falar sobre sua experiência no governo, as pressões de todos os lados, os avanços e diretrizes de suas ações, as parcerias. Todos ouviam atentos.

Assim, teve início a palestra da senadora Marina Silva, sobre a questão amazônica no período em que foi ministra do Meio Ambiente.

Eu já admirava a senadora antes, quando, ainda adolescente, conheci sua história aguerrida e cheia de esperança, dos seringais do Acre às avenidas de Brasília.

Chamou a atenção, em sua fala, a importância de se ter um olhar amplo e não sectarista quando se analisa uma questão tão complexa quanto a ambiental. Entretanto, pra quem acha que esse olhar amplo pode soar um tanto condescendente com práticas predatórias, a senadora fez questão de salientar a ética e a fé nos valores como diretrizes nas ações.

Num momento de singela beleza, ela lembrou de sua infância no Acre, em 1963 - ano de fundação da COPPE. Da sinfonia dos mangangás, espécie de abelhas polinizadoras, e de sua fé nas borboletas azuis, a quem seu tio atribuía a missão de guias caso ela se perdesse na floresta.

Imagino Marina, pequena, correndo pela floresta, rodeada de borboletas azuis...

Ela terminou contando uma história que alertava para a necessidade de respeitar-se os saberes locais, distantes da ciência ocidental branca, mas valorosos. Nesta linha, destaco a seguinte frase: "Não devemos governar para o Brasil, mas com o Brasil".

No final, todos aplaudiram, por muitos minutos. Palmas sinceras, calorosas, cheias de esperança. Como Marina, frágil à primeira vista, mas forte em suas convicções, espalhando fé, como uma borboleta azul.

Obrigado Marina...