domingo, 29 de junho de 2008

Caminhos

Caminhar é preciso. Sentir os odores, seguir os passos de alguém ou passo nenhum.
Pode-se ir daqui a algum lugar, pode-se deixar o vento rolar e ditar nossos caminhos, pode-se ficar e ainda assim viajar pelos labirintos que nos assombram; nossos caminhos íntimos...

As cidades tem lugares muito diversos, muitos, cheios de surpresa; boas ou más. O Rio não é diferente.

Como estou cheio das más surpresas, vou relatar aqui algumas boas, dessas que dá vontade da gente vivenciar de novo.

O Rio tem um pedacinho que pulsa história, saber, liberdade. Trata-se da região do entorno da Praça XV; ali perto do Paço Imperial, Rua da Assembléia, CCBB, Rua do Ouvidor. Estive lá num belo sábado, excepcionalmente ensolarado, com uma querida amiga. Pra começar, fomos ao CCBB, e vi pela décima vez a exposição sobre o Japão. Sob a cúpula estava acontecendo uma apresentação de Kendo, a arte japonesa do manejo com a espada.


Eis uma bela caminhada: encontrar um pedacinho do Japão aqui no Brasil.

Mas antes de entrar é preciso se libertar do que há de ruim.

E aprender que as mãos que fazem a guerra

Também promovem a paz, se assim o desejarem...

Mas, obviamente, as caminhadas não terminam assim. São feitas conexões, viradas, mudanças de plano. A gente pode se perder num velho sebo ou numa roda de samba em plena rua do Ouvidor, enquanto um grupo de fotógrafos vigia tudo em volta, captando a alma dos momentos.



Depois, no final de tudo, a gente pode dar a sorte de ver a tarde se despedir do dia, no Cais das Barcas, como nos contos de Machado de Assis.

Caminhar naquele sábado foi como encontrar um brinquedo perdido da infância, há muito esquecido, mas jamais ignorado.

E, antes que eu me esqueça, esta crônica é dedicada a minha grande amiga Aline de Jesus dos Anjos, autora das fotos - sim, podem falar, com uma amiga assim, quem precisa esperar o céu?.


Boas caminhadas...

domingo, 15 de junho de 2008

sábado, 7 de junho de 2008

Nippon


Sempre estive em trânsito. Morei em muitos lugares diferentes durante esses 22 anos. A maioria no Rio, mas brinquei na Baixada Fluminense e também no Nordeste.

Pode parecer estranho um texto com título Nippon começar assim, mas vocês vão perceber a ligação quando eu chegar lá.

Para comemorar os 100 anos da imigração japonesa, dentre tantas outras iniciativas, o CCBB está com uma exposição de tirar o fôlego - e de fazer pensar sobre a natureza humana. Trata-se de Nippon.

São contemplados séculos de história do Japão, desde a antiguidade, passando pela era dos Samurais e chegando a era dos animes e robôs. Estão expostos gravuras, a arquitetura, armuduras e armas samurais, origamis, ikebanas (uma espécie de arranjo de flores), a cerimônia do chá, trajes, etc. Além disso, há oficinas diversas, assim como apresentações musicais e de teatro.

Neste passeio histórico, um capítulo em particular me emocionou muito: o da imigração para o Brasil. Há um vídeo com um filme feito a respeito da imigração, que mostra imagens dos primeiros representantes da Terra do Sol Nascente a desembarcar no Brasil, em Santos. São rostos com medo e esperança. Famílias inteiras rumo ao desconhecido.

Conheço pouco a respeito do Japão, à exceção do que me mostraram os seriados e animes. Entretanto, tive uma grande identificação com esse drama dos imigrantes. É estranho, mas como nunca fixei residência por muito tempo num só lugar, sempre me senti um imigrante também. Um imigrante em minha própria terra. Sempre em busca de uma pequena felicidade, dessas que não se pode comprar.

Os japoneses hoje se integraram a nossa cultura, e contribuíram muito para a "cultura brasileira". Conheci alguns, poucos, mas identifiquei em todos um gosto excepcional pelo trabalho. Talvez, esses brasileiros com olhos estreitos não sejam assim tão parecidos com seus ancestrais, mas isso não importa muito. Tem olhos estreitos, mas enxergam longe.

Por um segundo, meus olhos se estreitaram também. E enxergando além, vi que o ser humano não é tão diferente assim, por mais distante que um esteja do outro. Há sempre essa força estranha no íntimo de cada um. Essa pequena chama chamada esperança e que no respeito ao outro, na união, tem um poder que fogueira isolada alguma pode ter.


P.S.: A exposição vai até o dia 13 de julho, no CCBB do Rio. É permitido fotografar :)

http://www44.bb.com.br/appbb/portal/bb/ctr2/rj/DetalheEvento.jsp?Evento.codigo=32853&cod=3