Cheguei uns 20 minutos antes. A sala não devia ter muitas pessoas; umas 20 talvez. Mas até a hora do evento ficou impossível encontrar um lugar vago.
De repente, ela entrou, usando um echarpe sobre o pescoço, com sua silhueta frágil, mas instigante.
Todos aplaudimos, ansiosos. Ela sorriu.
Logo, começou a falar sobre sua experiência no governo, as pressões de todos os lados, os avanços e diretrizes de suas ações, as parcerias. Todos ouviam atentos.
Assim, teve início a palestra da senadora Marina Silva, sobre a questão amazônica no período em que foi ministra do Meio Ambiente.
Eu já admirava a senadora antes, quando, ainda adolescente, conheci sua história aguerrida e cheia de esperança, dos seringais do Acre às avenidas de Brasília.
Chamou a atenção, em sua fala, a importância de se ter um olhar amplo e não sectarista quando se analisa uma questão tão complexa quanto a ambiental. Entretanto, pra quem acha que esse olhar amplo pode soar um tanto condescendente com práticas predatórias, a senadora fez questão de salientar a ética e a fé nos valores como diretrizes nas ações.
Num momento de singela beleza, ela lembrou de sua infância no Acre, em 1963 - ano de fundação da COPPE. Da sinfonia dos mangangás, espécie de abelhas polinizadoras, e de sua fé nas borboletas azuis, a quem seu tio atribuía a missão de guias caso ela se perdesse na floresta.
Imagino Marina, pequena, correndo pela floresta, rodeada de borboletas azuis...
Ela terminou contando uma história que alertava para a necessidade de respeitar-se os saberes locais, distantes da ciência ocidental branca, mas valorosos. Nesta linha, destaco a seguinte frase: "Não devemos governar para o Brasil, mas com o Brasil".
No final, todos aplaudiram, por muitos minutos. Palmas sinceras, calorosas, cheias de esperança. Como Marina, frágil à primeira vista, mas forte em suas convicções, espalhando fé, como uma borboleta azul.
Obrigado Marina...