quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sobre Amizade

A vida não é brincadeira, mas eu insisto em jogar dados, dar uma corrida, chutar a bola e rir de qualquer bobagem gostosa.
Às vezes as coisas ficam tensas, a gente tem que ser forte. Nestas horas enevoadas, os amigos são como faróis a nos iluminar o caminho.
Tenho tido ótimos amigos. Pra horas tristes e felizes. Sabem quando preciso de um abraço, de um sorriso e até mesmo quando preciso ficar sozinho por um tempo.
Antes que este texto fique muito piegas, eu dedico o poema abaixo a meus bons amigos e amigas. Vocês são poucos, raros, mas vão entender o que quero dizer; e saberão se reconhecer nas palavras.

Obrigado...

Acorda, amigo, acorda
É chegada a hora
Há quantas léguas andamos juntos?
Levas na mão uma rosa
Eu, levo o mundo

Levanta, amiga, levanta
O café está pronto
Abre a janela pro sol entrar
Dou-te um abraço longo
Beijas-me até chorar

Somos sementes que o vento leva
Passageiros na relva, gente

Ah, destino incerto
De todas as rotas
Só tenho em mente
Só amar importa
Como o mar
Que vai e volta
E permanece...

Assim é a gente...

domingo, 17 de agosto de 2008

Riqueza

Chorei tanto
Tão estranho sentir
Que um cego cantor de blues teve pena de mim

E fez seu sax dizer, assim, coisas tão belas

Choraram de New Orleans à azul Portela...

Então chegou o samba
No baticum da batucada
Que ecoa triste na madrugada

E renova na cidade a esperança

É como um choro de criança, que passa...

Ah, safado choro
Nas ladeiras do morro, de um barraco torto,
Estranho palacete em que te espero,

Rolam as notas de um sonho eterno...

Ah, esse canto a zombar da tristeza!
É tudo o que nos resta.
É nossa maior riqueza...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Cisma Sussurrante...


Cidade enovoada
Um sussurro de alerta
Na rua

Sombras se movem
Serpeiteiam pela nua
Lua

Me dizes: sou sua, sou sua...

E me despeço numa curva escura...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Sobre mangangás e borboletas azuis

Cheguei uns 20 minutos antes. A sala não devia ter muitas pessoas; umas 20 talvez. Mas até a hora do evento ficou impossível encontrar um lugar vago.

De repente, ela entrou, usando um echarpe sobre o pescoço, com sua silhueta frágil, mas instigante.

Todos aplaudimos, ansiosos. Ela sorriu.

Logo, começou a falar sobre sua experiência no governo, as pressões de todos os lados, os avanços e diretrizes de suas ações, as parcerias. Todos ouviam atentos.

Assim, teve início a palestra da senadora Marina Silva, sobre a questão amazônica no período em que foi ministra do Meio Ambiente.

Eu já admirava a senadora antes, quando, ainda adolescente, conheci sua história aguerrida e cheia de esperança, dos seringais do Acre às avenidas de Brasília.

Chamou a atenção, em sua fala, a importância de se ter um olhar amplo e não sectarista quando se analisa uma questão tão complexa quanto a ambiental. Entretanto, pra quem acha que esse olhar amplo pode soar um tanto condescendente com práticas predatórias, a senadora fez questão de salientar a ética e a fé nos valores como diretrizes nas ações.

Num momento de singela beleza, ela lembrou de sua infância no Acre, em 1963 - ano de fundação da COPPE. Da sinfonia dos mangangás, espécie de abelhas polinizadoras, e de sua fé nas borboletas azuis, a quem seu tio atribuía a missão de guias caso ela se perdesse na floresta.

Imagino Marina, pequena, correndo pela floresta, rodeada de borboletas azuis...

Ela terminou contando uma história que alertava para a necessidade de respeitar-se os saberes locais, distantes da ciência ocidental branca, mas valorosos. Nesta linha, destaco a seguinte frase: "Não devemos governar para o Brasil, mas com o Brasil".

No final, todos aplaudiram, por muitos minutos. Palmas sinceras, calorosas, cheias de esperança. Como Marina, frágil à primeira vista, mas forte em suas convicções, espalhando fé, como uma borboleta azul.

Obrigado Marina...

domingo, 29 de junho de 2008

Caminhos

Caminhar é preciso. Sentir os odores, seguir os passos de alguém ou passo nenhum.
Pode-se ir daqui a algum lugar, pode-se deixar o vento rolar e ditar nossos caminhos, pode-se ficar e ainda assim viajar pelos labirintos que nos assombram; nossos caminhos íntimos...

As cidades tem lugares muito diversos, muitos, cheios de surpresa; boas ou más. O Rio não é diferente.

Como estou cheio das más surpresas, vou relatar aqui algumas boas, dessas que dá vontade da gente vivenciar de novo.

O Rio tem um pedacinho que pulsa história, saber, liberdade. Trata-se da região do entorno da Praça XV; ali perto do Paço Imperial, Rua da Assembléia, CCBB, Rua do Ouvidor. Estive lá num belo sábado, excepcionalmente ensolarado, com uma querida amiga. Pra começar, fomos ao CCBB, e vi pela décima vez a exposição sobre o Japão. Sob a cúpula estava acontecendo uma apresentação de Kendo, a arte japonesa do manejo com a espada.


Eis uma bela caminhada: encontrar um pedacinho do Japão aqui no Brasil.

Mas antes de entrar é preciso se libertar do que há de ruim.

E aprender que as mãos que fazem a guerra

Também promovem a paz, se assim o desejarem...

Mas, obviamente, as caminhadas não terminam assim. São feitas conexões, viradas, mudanças de plano. A gente pode se perder num velho sebo ou numa roda de samba em plena rua do Ouvidor, enquanto um grupo de fotógrafos vigia tudo em volta, captando a alma dos momentos.



Depois, no final de tudo, a gente pode dar a sorte de ver a tarde se despedir do dia, no Cais das Barcas, como nos contos de Machado de Assis.

Caminhar naquele sábado foi como encontrar um brinquedo perdido da infância, há muito esquecido, mas jamais ignorado.

E, antes que eu me esqueça, esta crônica é dedicada a minha grande amiga Aline de Jesus dos Anjos, autora das fotos - sim, podem falar, com uma amiga assim, quem precisa esperar o céu?.


Boas caminhadas...